O seu lugar não é debaixo da mesa

Deus só pode alguma coisa em nós quando somos capazes de olhar as situações com amor. Na sua infância, você quebrou alguma coisa de sua mãe, ficou com medo de que ela descobrisse e se enfiou debaixo da mesa para poder se esconder? Comigo isso sempre acontecia. Quantas vezes nos escondemos das situações debaixo da mesa. O medo do que pode acontecer conosco é tão grande que preferimos nos esconder. Mas vai chegar um momento em que teremos que enfrentar as dificuldades, as nossas fraquezas, os nossos erros.

Lembro de minha mãe diante do presépio que havia ganhado de minha avó... Aquilo era de muito valor para ela justamente porque foi minha avó que lhe tinha dado. Quando o presépio estava pronto, eu nunca podia tocar. Mas quando estava maiorzinho já, minha mãe permitiu que eu pegasse o Menino Jesus. Um dia, na ausência dela, me achei cheio de autoridade para carregar o Menino Jesus e saí para mostrar ao meu vizinho. No meio do caminho comecei a correr e deixei o Menino Jesus cair. Na ânsia, na pressa, peguei-o do chão, e continuei a minha empreitada para chegar à casa do meu vizinho. E quando mostrei a ele, disse-me que era bonito, mas que estava sem a cabeça. Desesperado, voltei ao lugar onde tinha caído e procurei pela cabeça, colei e pus o Menino Jesus de novo no presépio.

Quando minha mãe chegou em casa corri para debaixo da mesa. Ela olhou para mim, percebeu algo estranho e perguntou o que havia acontecido. Logo abracei as pernas dela, comecei a chorar e disse que havia quebrado o Menino Jesus. Ela olhando para mim, levantou-me e deu um sorriso dizendo que não havia problema. Minha mãe me explicou que eu valia mais que aquele objeto e que não deveria ter medo de contar a ela o que havia acontecido. Percebi naquele momento o verdadeiro valor da misericórdia que nenhum livro de teologia me ensinou. Foi na simplicidade da minha mãe que conheci a força do perdão.

Na vida somos engaiolados pelos nossos medos, nossas inseguranças. Outro dia estive com minha amiga que teve sua irmã seqüestrada por 20 dias. Imagine 20 dias uma pessoa sendo tratada como um nada, no escuro. Ali ela devia imaginar: “Será que eles vão pagar o meu resgate? Será que tenho este valor”?

A vida humana gira em torno do valor, a fonte de todos os desejos do ser humano é o desejo de ser desejado sempre.

O tempo todo passamos da experiência de sair da multidão e ser reconhecido como único. Ninguém deseja ser visto como uma multidão, mas individual. No momento do seqüestro isto vem à tona, será que valho o valor que está sendo cobrado? Os maus tratos do cativeiro minam os conceitos que temos sobre nós mesmos. Não falo do seqüestro do corpo, mas do seqüestro da subjetividade, quando você depara com suas fragilidades e não sabe negociar, e vive como vítima seqüestrada.

Quantas pessoas nos metem medo só no olhar, isso não é amor. Quantas pessoas nos reprovam e nos levam para debaixo da mesa, para o cativeiro.

Há pessoas que nos roubam, que nos mandam para debaixo da mesa. Quantas vezes a vida lhe levou para debaixo da mesa? Quantas pessoas estão debaixo da mesa porque não tiveram coragem de enfrentar o “sequestrador”, de enfrentar os seus erros e fracassos. Se você não enxergar os seus erros e ver neles oportunidades de mudança você vai permanecer debaixo da mesa.

Deus não olha para multidão, Deus olha você. O olhar de Deus não desviou da sua vida nenhum instante.

Pode ser que hoje você tenha um passado horrível para ser arrumado, talvez você tenha medo de sair debaixo da mesa, mas Deus te convida a sair do seu cativeiro. Deus rompe todos os cativeiros possíveis para que você se sinta amado e feliz.

Autor: Padre Fábio de Melo

O seu lugar não é debaixo da mesa



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