Sobre relacionamentos

Como comprovar ou repensar a autenticidade de cada relacionamento? A minha teoria é muito simples. Quem me conhece há bastante tempo, aliás, provavelmente já me ouviu dissertando-a por aí. 

Quando eu não preciso pensar antes de fazer algum comentário para o outro é porque sinto recíproca naquela amizade ou naquele amor. É porque a relação é verdadeira. 

Conheço pessoas que dão a impressão de estarem sempre encenando, vocês não? Parecem ter cada movimento calculado, cada palavra bem organizada na formação de uma frase aparentemente perfeita.

Minhas amizades sinceras são aquelas onde a naturalidade impera. Onde as semelhanças permitem um entendimento mútuo, veloz e eficaz. Sem melindres, conselhos prontos, olhares dos pés a cabeça. Gosto de gente que ri quando quer rir e enche os olhos de lágrimas quando se emociona ou entristece.

Gosto de gente de verdade. 

Repudio os personagens e me afasto das pessoas que forçam-me a também atuar. Jamais vou conseguir ser feliz, por exemplo, controlando o destino de um diálogo, premeditando atitudes ou temendo reações. 

Certa vez, fui ao encontro de uma amiga que há tempos não via. A presença dela me fazia muito feliz, trazia-me lembranças de um tempo bom. Eu estava sorridente, quase serelepe, bastante tagarela e agitada. Depois de um tempo, ela me perguntou: 

- Por que estás tão feliz? 

Eu estava feliz por estar ali, ao lado de uma pessoa querida, mas – pra minha surpresa – não consegui dizer isso. Devo ter ficado muda e pensativa uns cinco segundos antes de responder. A moça era tão fria, tão séria, que me tirou toda a naturalidade. No fundo nunca foi amiga, hoje eu sei. 

Uma vez tive um namorado tão ciumento, tão possessivo, que acabei me tornando uma pessoa irreconhecível. Para evitar incomodações, eu dava respostas que não queria dar, omitia fatos simples do meu dia-a-dia e - também pra minha surpresa – dizia coisas que jamais sairiam da minha boca, não fosse a eterna vontade de agradar. 

Como sustentar uma relação assim? 

Tem gente que sustenta, eu sei, por medo de ficar sozinha ou por ter esperança de que um dia tudo seja diferente. Acreditem: não vai. Afastar-se, pra mim, é sempre a melhor solução. Mesmo parecendo um pouco radical, na minha vida virou lei. E hoje não há nada que me faça pensar de outra maneira, simplesmente me recuso a conviver com quem me obriga a pensar antes de falar. Com quem me deixa preocupada com suas reações, com um provável aborrecimento ou estranhamento. 

Nunca escondi de ninguém: são as afinidades que me atraem. E os opostos só se dão bem quando não existe hipocrisia.

Autor: Lucieli Dornelles

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