Família é afeto

No final da palestra um rapaz da minha idade veio me procurar. Queria encontrar o pai biológico, um homem que engravidou sua mãe quando ela tinha quatorze anos. Sua mãe era falecida e, pelo que havia ouvido da família, seu pai tinha o hábito de beber, usar drogas e bater na mulher. O rapaz tinha a esperança do pai ter se regenerado. Acreditava que, talvez, o pai estivesse o procurando. A gente sempre acha essas coisas.

Ao desconhecer nosso pai biológico uma nuvem de magia e mistério se forma acima de nossa cabeça. Será nosso pai uma pessoa famosa? Seria ele rico ou aventureiro? Estaria ele nos procurando neste exato momento, sem conseguir contato? Traria paz de espírito, conforto emocional e almoços divertidos aos domingos?

É uma fantasia reconfortante. E acontece por um motivo: é mais fácil amar alguém que não existe.

Enquanto idealizamos nosso pai ausente, esquecemos de valorizar as pessoas que estão do nosso lado. Fantasiamos uma vida nova e perfeita ao lado de um estranho, esquecendo nossa mãe, nossos pais adotivos, padrastos, madrastas, avós que nos criaram e estiveram sempre lá por nós. Quem estava lá nos cuidando, pagando contas, correndo de um lado para o outro para nos ver crescer não era nosso pai biológico. Era nossa família.

Família é afeto, não é genética. Família é onde você se sente amado, apoiado, seguro - e isso, às vezes, não tem a ver com sua ligação biológica. Por isso existem tantas famílias felizes pouco convencionais, adotivas, formadas por parentes da sua esposa, por tios, por padrastos.

Uma família perfeitamente feliz só existe na cabeça da gente. A vida real tem treta, briga, choro. Mas também é o único lugar que tem pedido de desculpa, abraço apertado, cafuné e beijo de bom dia. Afeto é família.

Se você tiver, tem tudo o que precisa.

Autor: Marcos Piangers

Família é afeto



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